Na trilha 1 você deve ter aproveitado os ventos para exercitar impulsos que geraram a decolagem. No bater de asas por meio dos pensamentos dos(as) artistas-pesquisadores(as) alguns significados de âmbar já começam a ficar presentes….
Nessa trilha 2, aproveite que você já estará com os pés nas nuvens, buscando um lugar para cultivar seus pés, e se deixe motivar por algumas imagens. A intenção é que você conheça alguns procedimentos utilizados pelos/as artistas do Grupo Âmbar para sua criação artística, perceba o que está sendo produzido e reflita sobre como o pensamento do grupo faz parte de um processo construtivo.
Este caminhar quer propiciar uma maneira de percepção das obras e se inicia com algumas questões e a fala de cada artista-pesquisador/a.
Observe a obra da artista Adriana Mendonça
Fonte: Adriana Mendonça
Falando sobre este trabalho, Adriana Mendonça comenta:
Lembro-me, vagamente, de brincar na rua da minha bisavó e me encantar com uma cobra multicor inusitada. Modelada em cimento, ela contornava uma casa da vizinhança e serpenteava minha imaginação. Passei boa parte da infância visitando-a toda vez que ia ver minha bisavó, até que fui crescendo, meus avós e tios desaparecendo e aquela cobra foi se desbotando e se corroendo até sumir. […] Na produção para a exposição “Com os pés plantados nas nuvens”, retomei às lembranças da infância, ao meu convívio com a zona rural do interior de Goiás e à paleta que me remete há esse tempo. Trouxe para a pesquisa poética representações de cobras da região, principalmente das cascavéis e da vegetação. No percurso de juntar as lembranças as vivências atuais, fiz anotações e desenhei em cadernos, onde colei fragmentos como: folhas vegetais em decomposição, ecdises de cascavel, recortes de revistas, impressões de fotografias e revelações de cianotipias. Paralelamente, fiz impressões fotográficas com técnica de antotipia (fotografia alternativa a partir de emulsões feitas com pigmentos naturais) e desenhos com técnica de aquarela sobre papel, sempre tentando misturar à paisagem às cobras, casas e árvores, plantando essas representações a uma paleta de terrosos, amarelos e verdes naturais.
Caminhando mais um pouco, você encontrará um conjunto de imagens da artista Eliane Chaud. Observe as imagens abaixo:
Fonte: Eliane Chaud
Após esse momento de observação, sugerimos algumas questões:
Eliane Chaud (2021) nos conta como se deu o processo de criação desta obra:
[…] Iniciei construindo possíveis tonalidades da cor luz que me envolve, um processo que passou por uma materialização ao elaborar sobreposições de linhas de bordar dentro de placas-de-petre, as quais utilizei como um recipiente para guardar as cores de meu cotidiano, um conjunto de 10 placas e que denominei de “Guardados de cor”. Durante o processo fui fotografando e trabalhando algumas imagens, o que gerou o estudo de “Construção de tons”, onde se vê camadas de cor se formando e a infinita de possibilidade de uma “paleta” de linhas-cor. Enquanto trabalhava a cor, outros pensamentos também me ocorreram quando fiz a “poesia Âmbar”, comecei a refletir sobre outros aspectos do âmbar, em diferentes dimensões, sensações e percepções.
Olhando as imagens (Figura 08) de Glayson Arcanjo, escolha uma ou duas e proponha uma descrição do que você vê, sente, pensa…
Fonte: Glayson Arcanjo
Glayson Arcanjo (2021) compartilha algumas observações sobre seu trabalho:
[…] Outro procedimento que se tornou assunto no decorrer dos dias foram os desenhos. Eles eram realizados nos fins de tarde com a observação direta das árvores existentes no quintal. Como conjunto, gerou uma série de árvores-raízes, onde ocres, marrons e laranjas e degradês tonais situam-se em proximidade com cores do pôr do sol e do fogo, este último aliás, incorporado ao processo de trabalho por meio da queima (por sinal, as queimadas são acontecimentos bastante frequentes neste período de seca aqui na região). Para a exposição “com pés plantados nas nuvens” volto a encarar a mim mesmo, buscando ecos no movimento e passagem do tempo e transformações das cores, corpos e matérias, atentando-me aos ciclos das plantas, às ações da seca, ao cair das folhas, às matérias que são incorporadas ao solo e lentamente decompostas.
Após pensar em diálogos entre as imagens da obra de Glayson Arcanjo, comece a observar a figura 08.
Fonte: Odinaldo Costa
Odinaldo Costa (2021) nos conta o que tem desencadeado seus processos artísticos.
[…] Estar presente nesse lugar de afeto, desencadeou vários processos artísticos, escolhi mostrar as estratégias que tenho criado para lidar com a paisagem de minha infância. Estou realizando vários mapeamentos partindo da presença de meu corpo nessa paisagem específica, a praia de Tambaú. Meu procedimento é realizar caminhadas pela extensão de praia que compreende o bairro de Tambaú. Procuro brinquedos esquecidos e antes de coletá-los, os fotógrafos ainda camuflados pelas areias. Fico pensando na analogia entre os brinquedos deixados na praia e as várias formas de negligência na infância, principalmente o abandono. Também registro as intervenções realizadas na praia, resultados de brincadeiras ou interações entre as famílias e frequentadores. Sejam castelos, piscinas ou outras edificações de areia. Me interesso por essas ruínas das brincadeiras infantis.
A figura 10 e figura 11 são frames do vídeo “Âmbar com paisagem e cigarras”. Procure assistir este vídeo…!
Fonte: Rubens Pilegi
Fonte: Rubens Pilegi
No relato abaixo, Rubens Pileggi nos conta uma série de experimentações sobre a construção deste trabalho:
[…] Iniciei a ideia desse trabalho depois que estive no sertão goiano, perto da cidade de Pirenópolis, em um fim de tarde e, de uma lado o tempo tinha se fechado, as nuvens vinham com pressa carregadas de chuva, do outro lado o pôr de sol em sua intensidade própria do lugar, única, como só aqui podemos experimentar. Então, pensei em um trabalho que tivesse uma imersão do espectador, como uma instalação de arte. Pensei, primeiramente, em colocar plásticos coloridos como paredes para as pessoas, quando passassem, fossem tingidas de luz. Depois, essa ideia transformou-se em um vídeo, onde utilizei um projetor e fotos das luzes do pôr do sol que eu venho fazendo desde 2012 clicadas aqui perto da UFG, no bairro do Itatiaia, em Goiânia. Lembrei-me, então, do som das cigarras, que compõem a paisagem, colocando esse som no meio da projeção que eu fiz sobre meu próprio corpo.
A figura 12 e a figura 13 fazem parte do processo criativo de Maria Tereza.
Fonte - Maria Tereza Gomes
Fonte - Maria Tereza Gomes
Maria Tereza inicia o seu processo de criação a partir de exsicatas de desenho, buscando uma aproximação tonal e se detém na resina do angico. Ela explica esse percurso
Comecei desenhando estas plantas com os extratos glicólicos, buscando usar o próprio extrato (a seiva, princípio ativo medicinal) da planta para desenhá-la. Em seguida continuar recortando e fazendo umas espécies de exsicatas de desenho. E numerando de acordo com aproximação tonal com a tabela de classificação de pigmentos. Percebi que a resina do angico estava desidratada e coloquei na água para hidratar, derreteu inteira ficou como um verniz. Daí comecei a desenhar com este verniz. Adorei o delicado tom dourado e suave. Desenhei o Angico com sua própria seiva ou verniz. Deixei o verniz de Angico no pires para continuar pintado no dia seguinte que solidificou e ficou vitrificado e fragmentado, adorei o efeito e resolvi trabalhar com as finas camadas de resina craquelada. Peguei os fragmentos de resina, finos e transparentes e comecei a montar formas como se fossem folhas das árvores sobre um tecido.
Vamos retornar à cor âmbar que gerou tantos pensamentos e inspirou a criação dos artistas. Revendo este conjunto de imagens do Grupo Âmbar, que comentários você pode fazer sobre as diferentes sensações que a cor âmbar pode produzir?
Você quer compartilhar com esse grupo de artistas-pesquisadores/as as questões que te inquietam após o percurso da Trilha 2? Tire uma fotografia da sua folha de papel com suas observações e questões e envie para educativaccufg@gmail.com