Carta #02
Casa da infância
Glayson Arcanjo
Goiânia, 10 de maio.
A primeira casa que morei se localizava em Santa Tereza, em Belo Horizonte, na esquina das ruas Silvianópolis com Oligisto, número 13. Morei nesta casa com meus pais e minha irmã entre 1975 e 1984.
Lembro-me que a entrada da casa se dava pelo alpendre, um espaço de geometria estranha, meio irregular e que tinha um pequeno portão de ferro que dava acesso a casa. Como a casa ficava na esquina, avistávamos o lado de fora e a movimentação nas duas ruas, mas ele não era aberto, tinha grades de ferro que fechavam os vãos desse espaço.Eu e minha irmã, gostávamos de ficar no alpendre pelo fato da de avistarmos o lado de fora e a movimentação que acontecia nas duas ruas.
Uma dessas ruas, a rua Silvianópolis, era muito íngreme e para subi-la ou desce-la tínhamos que inclinar o corpo no sentido oposto ao da inclinação da rua (recordo-me que fazia disso uma brincadeira).
Recordo-me dos cômodos internos da casa, a sala, o quarto e a cozinha. Tinha também um banheirinho que não me recordo bem como era e tinha também uma área externa ao fundo. Não recordo bem mas a sala e o alpendre talvez fossem os mais frequentados e o quarto o maior deles.

Outra parte importante da casa era a parte dos fundos. Ela era acessada pela porta da cozinha. Era uma área pequena, de chão de cimento e dava com a parede da casa da minha avó. Ali era lugar de lavar e estender as roupas, por isso tinha um tanque e passava o esgoto. Um dos episódios de que me recordo era o de alimentar com farelos de pão um ratinho que vinha comer pelo buraco da tampa desse esgoto (quando ele aparecia era pura alegria de criança). Lembro-me também que havia uma janela nessa parede e quando ela era aberta víamos um dos quartos da casa da minha avó. Essa mesma parede lateral terminava com um vão aberto, lugar de trânsito, por onde eu podia passar para a varanda e entrar na casa dela.
Vivi entre estas duas casas os meus nove primeiros anos de vida. Lá eu passava grande parte do dia enquanto meus pais estavam trabalhando. Mas vou falar dela em outro momento, e o que posso dizer é que a casa da minha avó foi uma extensão da minha primeira casa.