Carta #08
Casa das memórias
Irene Fadigas
Salvador, 02 de agosto de 2020.
Eram manhãs de muitas alegrias, todos a brincar no olho d’água, uma linda nascente de água límpida com muitas plantas de águas-pés, pareciam pequenas vitórias régias filtrando e purificando o ambiente. Uma grande gamela de madeira flutuando na água cheia de crianças, bem no centro ela vira, os adolescentes ficavam sorrindo, cortavam troncos de bananeiras e jogavam para dar socorro aos pequeninos, os troncos flutuavam, uma maravilha!
A grande casa ainda vive, na solidão dos dias, linda, cheia de lembranças, o nome da fazenda ainda pulsa: “Águas Livres”, no município de Batalha-Piauí. Se pesquisarmos no Google ela virá imponente e bela, senhora de tantas histórias, de lembranças inesquecíveis que povoam minha mente, enchem me coração de alegrias.
As calçadas em torno da casa são grandes, como palcos elas se abriam todas as noites, as estórias eram contadas de forma simples, a plateia atenta, pronta para correr a qualquer conto, a qualquer hora, outras sem sentido, como cavalgar sobre um grande cavalo marinho! O cheiro da casa grande ainda está no olfato de todos, os doces mexidos nos grandes tachos de cobre, os bolos feitos no forno a lenha, a farinhada, a moagem de cana, garapa, rapaduras, a comida cheirava tanto que chega doer de saudades.
A casa construída por meu pai dava abrigo a todos, comida na mesa, conversas, gargalhadas, alegrias, amizades, muitos se foram, em outro plano vivem agora, perderam-se nas nossas memórias.
Uma grande parte das lembranças rumaram para outras terras aqui na capital da alegria, eterna e linda, uma terra chamada Bahia, em Salvador a águia pousou e aqui ficou. E como gerou uma linda família ao lado de Zé, uma linda casinha azul construíram aqui pertinho do mar, cercada de orquídeas e plantas, juntos aqui estamos com a soma das memórias sempre presente, passando adiante as estórias de duas vidas para as três pequeninas centelhas que a vida nos deu, que agora somam a mais duas flores lindas a crescer em nosso jardim!
Com amor,
Irene Fadigas.