NOTAS #02
Do habitar a casa e-em suas fragilidades.
Glayson e convidados.
Vídeo de processo contínuo realizado na quarentena.
Como curioso por assuntos, acontecimentos e espacialidades urbanas, vinha me ocupando com práticas artísticas e reflexões que levam em consideração transformações ocorridas no tecido social, urbanístico e arquitetônico da cidade e atuando através da realização de intervenções nas ruas, edifícios, canteiros de obras etc.
O trânsito entre ficar em casa para, ao ausentar-se dela, ganhar a rua, configura-se como estratégia frequente utilizada por mim para encontrar situações de interesse, conhecer novas paisagens ou apenas caminhar pelas ruas. Ao caminhar, sou capaz de sair de um estado corporal aparentemente inerte e me deslocar de um ponto a outros; transitando da segurança da casa para os riscos da rua e vice-versa. Transito fora e dentro; entre o habitual e o desconhecido da casa e o lado de fora. Quando caminho, acabo por criar ordenações e atravessamentos do meu corpo com pessoas, sensações, objetos, espaços e lugares vivenciados com e durante o trajeto.
Mas, nessa quarentena, o movimento de sair para caminhar pelas ruas e espaços da cidade, que se contrapunha, de certo modo, ao de permanecer em casa, se alterou, e tem passado por modificações radicais desde então. Quando o sair da casa se torna imprescindível, exige de nós outras atitudes e precauções, como o uso da máscara e do álcool, evitar o contato físico com outras pessoas e que mantenhamos a distância mínima de 1,5m entre pessoas, estes cuidados indispensáveis e recomendados.
Por outro lado, estando em casa, me vi no desafio de criar rotinas diárias que beneficiassem formas de contato e convívio mais íntimos, em favor de certo bem-estar, da saúde da minha vida e dos familiares; de pessoas próximas ou mesmo desconhecidas, com o desejo de valorização de um estar no mundo mais consciente, de modo menos consumista, menos apressado e prejudicial a mim mesmo e ao outro.
Diminuídas as formas do convívio externo, este estar na casa tem se transformado em possibilidade de me conectar comigo (com o indivíduo que sou, que julgo ser, que achava que era) e de criar permanência e proximidade com o lugar.